CONHEÇA OS PERIGOS DOS CHÁS E CÁPSULAS PARA EMAGRECER
Em entrevista, Dra. Alessandra da Silva Guedes, conselheira do Conselho Regional de Farmácia do Estado da Bahia, aponta que a fitoterapia é segura, quando orientada por um profissional capacitado
O perigo dos chás e das cápsulas para emagrecer voltou à tona após a repercussão do caso de uma enfermeira, Mara Abreu, de São Paulo, que consumiu cápsulas de um composto para emagrecer, teve hepatite fulminante e faleceu depois de rejeitar um transplante de fígado.
As cápsulas que a enfermeira utilizou, compostas por 50 ervas, é algo que faz parte da fitoterapia, que utiliza plantas para o tratamento de doenças. Todo produto, seja extrato, tintura, pomada, ou cápsula, que tenha como matéria-prima qualquer parte de uma planta com conhecido efeito farmacológico e segurança de uso, pode ser considerado um fitoterápico.
Com objetivo de alertar e orientar colegas farmacêuticos e a sociedade, o CRF-BA traz uma entrevista com a Dra. Alessandra da Silva Guedes, de 50 anos, que atua como docente há 25 anos, ensinando disciplinas de Farmacognosia, Farmacobotânica, Fitoterapia e Química Orgânica. Ela tem mestrado em química de produtos naturais e recentemente iniciou um doutorado em biotecnologia.
Na sua jornada profissional, Dra. Alessandra trabalhou com fitoterápicos ao longo de onze anos. E, com sua experiência, afirma que a fitoterapia pode beneficiar o paciente: “A fitoterapia faz parte de uma das práticas integrativas e complementares. No que diz respeito ao paciente, a fitoterapia vai trazer benefícios para os problemas leves de saúde. A principal vantagem é uma menor incidência de efeitos colaterais quando comparamos os fitoterápicos com os medicamentos de síntese.”
Apesar dos benefícios, Dra. Alessandra deixa claro que existe risco para a saúde do paciente que faz uso de fitoterápicos sem orientação de um profissional capacitado, principalmente por causa de algumas práticas populares durante o preparo e uso destes produtos. A forma de preparar o chá, a quantidade de ervas utilizadas, o estado nutricional do paciente e interações do fitoterápico com outros fármacos são alguns exemplos de como a fitoterapia pode apresentar risco à saúde e possibilitar um quadro de intoxicação.
Sobre os produtos para emagrecimento, Dra. Alessandra afirma:
É importante ter uma orientação de um profissional devidamente capacitado. Existem fitoterápicos que apresentam contra-indicações. O fato de eles terem uma menor incidência de efeitos colaterais não quer dizer que não existam. Os chás são auxiliares para o tratamento de emagrecimento. Nenhum chá vai emagrecer ninguém. A grande questão são os chás emagrecedores que estão sendo comercializados no mercado, sendo que muitos deles não tem aprovação da Anvisa. A falta de fiscalização no setor faz com que isso aconteça.
Confira abaixo uma entrevista com a Dra. Alessandra Guedes sobre o assunto:
- O caso da enfermeira de São Paulo que faleceu após ter hepatite fulminante decorrente do uso de um composto que prometia emagrecimento sem esforço mostra que muitos medicamentos são vendidos sem orientação e que podem causar graves consequências. Como tornar os fitoterápicos mais seguros para o consumo da sociedade?
R: Investindo mais em pesquisas de plantas medicinais no que diz respeito a estudos em nível farmacológico e toxicológico. Incluindo a Fitoterapia como disciplina nos cursos da área de saúde. Implantando serviços e/ou implementando o serviço onde já existe algum tipo de orientação sobre o uso de fitoterápicos. - Quais são as consequências que o mau uso dos fitoterápicos pode causar à saúde das pessoas?
R: Podem aparecer efeitos adversos leves como náuseas e vômitos, distúrbios gastrointestinais e desequilíbrios eletrolíticos que desaparecem após a suspensão do uso de fitoterápicos; efeitos graves sistêmicos em nível hepático, renal e cardíaco como consequência do uso prolongado e exagerado de plantas medicinais e fitoterápicos. Semelhantes aos que acontecem com o mau uso de medicamentos de síntese. - O emagrecimento é algo buscado por muitas pessoas. Com esse objetivo, muitas vezes a saúde acaba ficando em risco. Como farmacêutica, de que forma você orientaria alguém que queira emagrecer consumindo fitoterápicos ou outros medicamentos?
R: Procurar a orientação de profissional de saúde capacitado para que após uma boa avaliação clínica possa ser definida a melhor intervenção terapêutica. - O que pode ser feito pelos farmacêuticos e pelas autoridades responsáveis para que casos como o da enfermeira Mara Abreu não voltem a acontecer?
R: Farmacêuticos podem realizar campanhas educativas que orientam a população sobre a fitoterapia e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos. Realizar estudos com as plantas medicinais. Auxiliar na implantação de serviços de Fitoterapia para contribuir com orientações seguras sobre os fitoterápicos e plantas medicinais. Realizar intervenções diretas com a equipe de saúde acerca da inserção da fitoterapia como terapia complementar e com os pacientes/usuários da fitoterapia. As autoridades devem fiscalizar mais este segmento, empresas produtoras e os estabelecimentos que comercializam estes produtos. Fazer cumprir as resoluções do setor para adequação dos produtos às normas definidas e regulamentadas. Estimular e monitorar as notificações de reações adversas observadas no uso de Fitoterápicos. - Como o consumidor pode se assegurar de que o produto fitoterápico que ele está comprando é seguro para sua saúde?
R: Observando nos rótulos se existe registro, autorização do Ministério da Saúde (MS) para produção e comércio destes fitoterápicos. Buscando no site da ANVISA informações sobre o fitoterápico e a empresa que o produz. Usando fitoterápicos elaborados a partir de espécies conhecidas quanto aos seus efeitos e toxicidade, ou seja, espécies certificadas. Não consumir produtos que apresentem associação de plantas medicinais sem registro no MS. Pois a associação de plantas medicinais para o tratamento de patologias é permitido, mas se faz necessário comprovar a eficácia e a segurança no uso dessa associação. Os ativos presentes nos vegetais podem ter efeitos antagônicos ou levar uma resposta potencializada em decorrência de efeitos aditivos. - Com a devida orientação, como a farmacoterapia pode impactar positivamente a vida dos pacientes?
R: Melhorando o quadro clínico dos pacientes como a insônia e a ansiedade leve e moderada, TPM, distúrbios gastrointestinais, prisão de ventre aguda, manifestações dolorosas do aparelho locomotor, vulvovaginites, queimaduras de sol de 1º grau, tosses produtivas, entre outras.