DIA NACIONAL DA VISIBILIDADE TRANS: O QUE O FARMACÊUTICO PRECISA SABER
Hoje, dia 29 de janeiro, é Dia Nacional da Visibilidade Trans. Com o objetivo de trazer visibilidade à data e disseminar informações relevantes sobre o assunto, o Grupo de Trabalho de Cuidado Farmacêutico à População LGBTQIA+ e Outras Populações Vulneráveis do CFF preparou um material para orientar farmacêuticos e farmacêuticas.
Pessoas trans têm muitas das mesmas necessidades de saúde que a população em geral. No entanto, algumas delas também requerem cuidados específicos. Confira abaixo informações e recomendações para auxiliar você a enfrentar as necessidades e demandas de pessoas trans nos serviços farmacêuticos, para que assim essa população possa ter suas necessidades atendidas dignamente. É preciso criar e implementar políticas, contar com pessoal qualificado e garantir ambientes de respeito e qualidade de atendimento.
Farmas precisam ser sensíveis às questões de identidade de gênero. E para isso é necessário iniciar entendendo o significado da transgeneridade.
A transgeneridade é uma categoria dissidente de gênero. Difere das expectativas da sociedade de como eles deveriam parecer, agir ou se identificar com base no gênero que lhes foi atribuído no nascimento.
As pessoas trans são aquelas cuja identidade e expressão de gênero não estão em conformidade com as normas e expectativas impostas pela sociedade em relação ao gênero que lhes foi designado ao nascer, com base em sua genitália.
A categoria de pessoas trans é bastante ampla e abarca as mulheres trans, as travestis, os homens trans, pessoas não-bináries (que não se identificam com o gênero masculino, nem com o feminino), dentre outras identidades.
As pessoas trans têm sido tradicionalmente estigmatizadas, marginalizadas, abusadas, discriminadas e até submetidas à violência física e emocional. Essas e outras expressões de transfobia devem ser consideradas fatores que impactam a saúde.
Também é necessário entender que as pessoas trans tendem a buscar tratamentos em saúde por meio de automedicação ou cuidados entre si, devido, muitas vezes, às violências que sofrem por parte de profissionais de saúde. Isso pode vulnerabilizar ainda mais essa população.
Principais preocupações com a saúde das pessoas trans:
Para todos: Isolamento, medo, estigma, violência física e rejeição familiar, contribuindo para a depressão, ansiedade, uso indevido de medicamentos, automutilação e suicídio.
Mulheres trans e travestis:
Desamparo pela falta de serviços essenciais de saúde e especializados em gênero, como cirurgiões, cuidados pós-operatórios, endocrinologistas, psiquiatras, terapeutas, entre outros.
Homens trans:
Ausência de reconhecimento de suas necessidades enquanto pessoas que precisam de cuidado ginecológico. Ausência de serviços especializados em gênero.
Pessoas não-bináries:
Não reconhecimento de suas identidades e de suas necessidades em saúde específicas, de acordo com seu corpo, uso ou não de hormônios, entre outras questões. Ausência de serviços especializados em gênero.
A maior parte dos atendimentos em saúde que as pessoas trans necessitam são atendimentos comuns e podem ser prestados por qualquer profissional em qualquer serviço. No entanto, o despreparo dos profissionais gera, muitas vezes, atendimentos violentos e que causam ainda mais sofrimento à pessoa que procura acolhimento.
Há uma série de ações relativamente simples que podem ser feitas em um serviço farmacêutico para deixar as pessoas trans mais confortáveis:
- Respeitar o nome social e o pronome escolhido pela pessoa;
- Disponibilizar banheiros com gênero neutro. Caso não haja essa possibilidade, é fundamental que a pessoa seja respeitada em seu direito de utilizar o banheiro de acordo com o seu gênero;
- Deixar um espaço em branco após a pergunta sobre gênero ou oferecer a opção pessoa trans (homem trans, mulher trans ou travesti, pessoa não binárie e outros) nos formulários usados no serviço. Por exemplo:
Gênero/identidade de gênero:
( ) Mulher cis ( ) Mulher trans/travesti ( ) Homem cis
( ) Homem trans ( ) Pessoa Não Binárie ( ) Outro - Utilizar linguagem de gênero neutro ao perguntar sobre o histórico sexual ou de relacionamento de um paciente.
É necessário ter atenção aos cuidados em saúde relacionados à transição de gênero.
As transições de gênero são projetadas para alinhar características físicas com identidade de gênero. Podem incluir hormonização, redesignção de gênero, cirurgia de mama ou tórax, histerectomia ou harmonização facial. Pessoas trans também podem ter necessidades de saúde únicas em relação a cuidados reprodutivos, cuidados ginecológicos e urológicos e serviços de saúde mental.
Pessoas trans também podem ter necessidades de saúde únicas em relação a cuidados reprodutivos, cuidados ginecológicos e urológicos e serviços de saúde mental.
O ideal seria que todas as pessoas trans que desejam usar hormônios deveriam fazê-lo sob a supervisão de um médico que pudesse prescrever uma dose adequada e monitorar seus efeitos. Entretanto, na maioria das vezes, as pessoas trans não são acompanhadas por endocrinologistas. Assim, farmas devem saber orientar sobre o uso desses hormônios para evitar complicações em saúde.
Homens trans que ainda têm útero, ovários ou seios correm o risco de câncer nesses órgãos. As mulheres trans correm o risco de câncer de próstata, embora esse risco seja baixo. Os cânceres relacionados ao uso de hormônios são raros, mas o aconselhamento ainda é necessário.
Pessoas trans precisam ser aconselhadas sobre os riscos de injetar silicone industrial. Muitas pessoas trans usam injeções de silicone para melhorar sua aparência. A aplicação de silicone industrial é uma prática perigosa que pode levar a sérios problemas de saúde , pode ser tóxico, se mover pelo corpo e desfigura-lo.
Pessoas trans usam mais drogas em comparação com outras. As substâncias usadas incluem anfetaminas, maconha, ecstasy e cocaína. O uso dessas drogas tem sido associado a taxas mais altas de transmissão do HIV por meio de decisões prejudicadas durante o sexo. As evidências sugerem que seu uso prolongado pode ter sérias consequências negativas para a saúde, por isso pessoas trans devem ser rastreadas quanto ao uso de substâncias e receber orientação apropriada e aconselhamento baseado em risco.
As pessoas trans têm taxas mais altas de depressão e ansiedade em comparação com outras. Esses problemas são muitas vezes piores para aqueles que não têm apoio social adequado ou que são incapazes de expressar sua identidade de gênero. Como resultado, adolescentes e adultos jovens têm um risco aumentado de suicídio. No entanto, serviços de saúde mental culturalmente sensíveis podem ajudar a prevenir e tratar esses problemas.
As pessoas trans devem ser rastreadas quanto a sinais e sintomas de depressão e ansiedade e devem procurar serviços de saúde mental apropriados, conforme necessário.
Também correm mais risco de contrair infecções sexualmente transmissíveis (IST). Estas incluem infecções como gonorréia, clamídia, sífilis, HIV, hepatite A, B ou C, vírus do papiloma humano. O sexo seguro, incluindo o uso de barreiras, é fundamental para prevenir as DSTs. Pessoas trans que são sexualmente ativas devem ser rotineiramente rastreadas para IST.
As informações deste post foram disponibilizadas pelo GT de Cuidado Farmacêutico à População LGBTQIA+ e Outras Populações Vulneráveis do CFF. Os membros são:
Alícia Krüger (coordenadora)
Elaine Baptista
Maria Fernanda Barros de Oliveira Brandão
Naila Neves Neves
Thais Rolla de Caux
Mariana Martins Gonzaga
Winny Scarpari
Anne Karoline Borges Silva
Laura Maria dos Santos Nascimento
Isabel Dielle Pio
Para você aprender mais sobre o assunto, leia o Guia do Cuidado Farmacêutico para a Comunidade LGBTI+.