12 de julho de 2024

DA SUPERAÇÃO À INSPIRAÇÃO: A JORNADA DO DR. MARIVALDO CERQUEIRA CONTRA O CAPACITISMO

Ainda criança, aos 6 anos de idade, o Dr. Marivaldo Santos Cerqueira foi diagnosticado com a síndrome de Silver Russell, uma condição geneticamente heterogênea rara que afeta o crescimento intrauterino e pós-natal, provoca alterações craniofaciais, assimetrias corporais, baixo índice de massa corporal, entre outras características.

Natural da cidade baiana de São Felipe, mais precisamente da zona rural, ele afirma que desde muito cedo teve que conviver com o preconceito das pessoas por conta dessa condição.

“Era terrível, doía muito e me fazia chorar. Mas, mesmo sendo criança, eu buscava não absorver aquele tratamento. Era uma violência muito grande vivida por alguém sem a maturidade necessária para reagir. Eu não conseguia entender. Apenas sofria”, relembra.

Ele afirma que seus pais, que eram semianalfabetos, foram essenciais para que aquele tratamento preconceituoso não fizesse com que ele se tornasse uma pessoa infeliz. “Minha mãe, Antonia Cerqueira, sempre me falou que eu poderia chegar onde quisesse. Devo tudo o que sou a ela e ao meu pai”.

O Dr. Marivaldo relata que, em 1999, decidiu vir para Salvador, em busca de novas oportunidades. No entanto, ele levou um ano e meio em busca de emprego na capital baiana e foi bastante rejeitado. Isso o abateu muito. Ele já se preparava para retornar à sua cidade natal, quando o destino intercedeu a seu favor.

“Eu sei que muitos dos ‘nãos’ que recebi foram por causa do capacitismo. Lembro-me como se fosse ontem quando uma conhecida de minha mãe, que era proprietária de uma farmácia, em Pau da Lima, me ofereceu a oportunidade que mudou a minha vida. Era a chance que esperava tanto e a abracei com todas as forças que tinha”, recorda.

Ele chegou a concluir o curso técnico em enfermagem, mas ainda faltava algo para se sentir realizado. Foi quando surgiu a ideia de montar uma farmácia comunitária. Quando foi inaugurada, a farmácia Cerqueira, no bairro Engomadeira, ocupava um espaço menor que o de hoje.

“Economizei tudo o que podia. Em 2014, o estabelecimento passou a funcionar em um espaço próprio e bem maior, no mesmo bairro. Eu trabalhava das 7h às 21h, diariamente”.

Mesmo com tanto trabalho e tendo que passar por todas as dificuldades que um microempreendedor enfrenta no Brasil, ele tinha vontade de se tornar farmacêutico.

Então, em 2018, aos 41 anos, o Dr. Marivaldo ingressou na UniEstácio, na graduação em Farmácia. O curso foi concluído há dois anos.

Dos 8 filhos, o Dr. Marivaldo foi o único que chegou ao ensino superior. Mas ele quer ir ainda mais longe. Hoje, com seu estabelecimento consolidado, casado e pai de uma menina de 7 anos, ele está prestes a finalizar uma pós-graduação em Farmácia Clínica com Prescrição Farmacêutica. Mas também tem outros planos.

“Quero focar na atividade de palestrante para contar minha história e buscar motivar outras pessoas a irem em busca da realização dos seus projetos. Já palestrei para estudantes da graduação em Farmácia e para profissionais da saúde e gostei muito”.

O farmacêutico destaca que tem no presidente do CRF-BA, Dr. Mário Martinelli, uma de suas inspirações na profissão farmacêutica. “Quando eu estava no primeiro semestre da graduação, assisti a uma palestra do Dr. Mário. Fiquei muito impactado e me identifiquei com o amor e a garra com que ele fala da nossa profissão”, conclui.

O CRF-BA espera que a trajetória vitoriosa do Dr. Marivaldo inspire outras pessoas a irem atrás de seus objetivos e contribua para o combate ao capacitismo.

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