11 de maio de 2022

CRF-BA ALERTA PARA OS RISCOS DO USO INADEQUADO DE ANALGÉSICOS OPIOIDES

O aumento do número de pacientes que recorrem aos analgésicos opioides ou opiáceos para controle da dor tem chamado a atenção de farmacêuticos, bem como de outros profissionais de saúde.

Esse “fenômeno” dos tempos modernos, onde as pessoas buscam soluções imediatas para os seus problemas, sem considerar as possíveis consequências, também serve de alerta quanto à possibilidade de prescrição inadequada para os pacientes.  

Tal assunto é muito sério e já se discute inclusive o temor de que no Brasil ocorra uma espécie de “epidemia” de abusos opioides, criando uma legião de pessoas dependentes, como já ocorre nos Estados Unidos.

Uma matéria publicada recentemente pelo jornal Folha de S. Paulo informou que, em 2019, uma pesquisa sobre drogas da Fiocruz apontou que 4,4 milhões de brasileiros já fizeram uso ilegal (sem prescrição médica) de algum opiáceo, o que corresponde a 2,9% da população. O número é três vezes superior ao uso de crack, experimentado por 0,9% da população ao longo da vida. No caso da cocaína, 0,3% da população já usou a droga.

O mesmo texto apresentava dados de outro estudo feito em 2018, publicado no American Journal of Public Health, que acendeu o alerta para o aumento do uso legal desses medicamentos. Em seis anos, a venda prescrita de analgésicos à base de ópio cresceu 465%, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Mas é possível que profissionais farmacêuticos contribuam para que o consumo de opioides não se torne um problema fora de controle no Brasil!

Saiba mais sobre o tema na entrevista com a farmacêutica responsável pelo Centro de Informação sobre Medicamento (CIM) do CRF-BA, Dra. Maria Fernanda Barros.

CRF: O que é um opioide?

Dra. Maria Fernanda Barros: São uma classe de drogas encontradas na planta do ópio ou são produzidas sinteticamente. Podem produzir uma variedade de efeitos, incluindo o alívio da dor e causar sonolência (efeito hipnótico). Também são chamados de narcóticos. Os opioides podem ser prescritos como medicamentos (analgésicos) ou podem ser drogas ilícitas (heroína).

CRF: Quais os mais conhecidos/utilizados do mercado?

D.MFB: Os medicamentos opioides mais conhecidos e disponíveis legalmente, que só podem ser adquiridos por prescrição médica são: codeína, tramadol, metadona, morfina, fentanil, oxicodona e hidrocodona.

CRF: Para quais doenças esses medicamentos são indicados?

D.MFB: Os opioides prescritos são usados principalmente para tratar a dor moderada a grave. Embora, em alguns casos, possam ser usados para tratar tosse e diarreia.

Os opioides são a base para o tratamento de:

● Dor súbita e grave, relativamente curta (aguda), conforme ocorre após cirurgias ou resulta de queimaduras ou fraturas;

● Dor crônica devido a câncer ou outro distúrbio que encurta a expectativa de vida (distúrbio terminal);

● Dor crônica em pessoas que estão recebendo cuidados paliativos.

CRF: O seu uso indiscriminado pode causar quais consequências para os pacientes?

D.MFB: O uso desses medicamentos não vem sem riscos. Ao serem prescritos podem aumentar a tolerância e dependência do paciente, exigindo doses mais altas e mais frequentes. Em alguns casos, em longo prazo, pode levar ao vício ou ao “transtorno de uso de opioides”. Também podem restringir a capacidade respiratória quando tomados em uma dose mais alta e levar a uma overdose fatal. O risco de depressão respiratória (desacelerando ou mesmo interrompendo a respiração) aumenta se a pessoa nunca tomou um opioide antes ou se estiver tomando outros medicamentos/drogas.

Os opióides também podem fazer as pessoas se sentirem muito relaxadas e “altas” – e é por isso que às vezes são usados por razões não médicas (uso recreativo). Isso pode ser perigoso porque podem ser altamente viciantes e overdoses e morte são comuns.

CRF: De que forma os profissionais farmacêuticos, que atuam com a dispensação, podem contribuir para evitar uma possível “epidemia” de abuso desses medicamentos?

D.MFB: A literatura científica internacional indica que os farmacêuticos no momento da dispensação têm a responsabilidade de garantir que as prescrições de substâncias controladas sejam dispensadas quando para fins médicos legítimos. No entanto, mesmo as prescrições emitidas por motivos apropriados têm o potencial de colocar os pacientes em risco de eventos adversos. Há uma grande ambiguidade na definição dessas situações no momento da dispensação e, portanto, não existem estratégias específicas para avançar esta recomendação. No momento da dispensação, o farmacêutico poderia orientar o paciente sobre o armazenamento e descarte seguro do medicamento; atuar na conscientização e compartilhar recursos sobre os riscos dos opioides prescritos e o perigo de uma overdose para pacientes e familiares.

CRF: Apenas o farmacêutico pode agir para evitar o problema do uso exagerado desse medicamento?

D.MFB: Para evitar o problema do uso inadequado dos opioides são necessárias várias ações que vão desde o âmbito regulatório, gestão, prescrição, dispensação, administração e até o descarte. Dessa forma, diversos atores precisam estar envolvidos no processo, agências regulatórias, instituições de saúde, gestores, profissionais de saúde, pacientes e familiares. 

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