VITÓRIA DA CONQUISTA RECEBE O PRÊMIO SANTA DULCE DOS POBRES EM RECONHECIMENTO AO SUS E À ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
No dia 4 de novembro, Vitória da Conquista celebrou uma importante conquista: o Prêmio Santa Dulce dos Pobres, obtido pelo projeto “Ampliando acesso e qualificando o gerenciamento de doenças crônicas através da tecnologia”, apresentado na Mostra do Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde (COSEMS) da Bahia. Desde 2016, o prêmio busca reconhecer e valorizar iniciativas inovadoras desenvolvidas por profissionais de saúde nos municípios baianos.
Esse reconhecimento é um reflexo do compromisso contínuo com o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e a valorização da Atenção Primária à Saúde (APS) no município. O prêmio reafirma o esforço diário de uma equipe dedicada à promoção de uma saúde pública de qualidade, onde cada ação é um passo em direção a uma APS mais forte e resolutiva.
O Dr. Pablo Maciel, da assistência farmacêutica de Vitória da Conquista, destacou a importância das premiações nas redes sociais: “Elas demonstram que as atividades planejadas por muitas mãos, alinhadas às demandas dos munícipes e executadas por profissionais de excelência, são o segredo para transformar o SUS, o maior do mundo, em um instrumento que atenda às necessidades de saúde e qualidade de vida das pessoas. Sinto orgulho de fazer parte de uma equipe que trabalha diariamente para entregar o seu melhor, considerando as condições disponíveis. Que cada um dos nossos colegas se sinta parte dessa conquista!”
Confira abaixo uma entrevista com o Dr. Pablo Maciel, membro do Grupo Técnico de Trabalho de Assistência Farmacêutica do CRF-BA.
CRF-BA: Qual é o papel da assistência farmacêutica na ampliação do acesso e no gerenciamento de doenças crônicas no SUS?
Dr. Pablo Maciel: O projeto “Ampliando acesso e qualificando o gerenciamento de condições crônicas não transmissíveis através da tecnologia” é fruto de uma parceria entre a Assistência Farmacêutica e a Atenção Básica e tem se mostrado um marco no cuidado em saúde do nosso município. Nesse contexto, a assistência farmacêutica tem contribuído com a incorporação do cuidado farmacêutico no âmbito das condições crônicas, com o uso de tecnologias inovadoras, tais como o Point of Care Testing (POCT) para dosagem de hemoglobina glicada e a Monitorização Residencial da Pressão Arterial (MRPA), que têm sido fundamentais para otimizar o diagnóstico e o acompanhamento dos pacientes, permitindo ajustes terapêuticos mais precisos e em menor tempo, reduzindo também o itinerário terapêutico dos usuários e aumentando a efetividade das ações da rede.
CRF-BA: Como a tecnologia tem sido usada para melhorar o acompanhamento e a adesão dos pacientes ao tratamento de doenças crônicas?
PM: As tecnologias assumem um papel de ferramenta de apoio estratégico, seja no diagnóstico ou no monitoramento dos parâmetros fisiológicos e bioquímicos dos usuários acompanhados pela rede. Seja pela precisão nos resultados, como no caso da MRPA, que também se apresenta como alternativa ao uso da MAPA — tecnologia que requer maior investimento e, por isso, acaba por reduzir o acesso — ou pela precisão e rapidez nos resultados, como no POCT de glicada e lipídios, que libera resultados em menos de 8 minutos, permitindo ao usuário conhecer seus parâmetros ali mesmo durante a consulta farmacêutica e possibilitando intervenções farmacêuticas mais assertivas. Consequentemente, há maior aceitação por parte dos profissionais da rede, sobretudo da equipe médica, contribuindo de forma efetiva para a otimização do tratamento e melhores resultados em saúde.
Outro ponto importante é que o atendimento clínico farmacêutico, oferecido nas unidades de saúde e farmácias da família, tem proporcionado um cuidado individualizado e integral, com foco em educação em saúde e revisão da farmacoterapia, visando à segurança, efetividade e adesão ao tratamento. Essa abordagem, aliada à atuação da equipe multiprofissional, tem fortalecido a Atenção Primária à Saúde e contribuído para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes que convivem com condições crônicas.
CRF-BA: Como você enxerga a evolução da assistência farmacêutica no SUS nos próximos anos?
PM: Nós consideramos que os últimos anos foram de avanços; entendemos que há uma consolidação das práticas clínicas farmacêuticas na rede, demonstrada pela institucionalização do Cuidado Farmacêutico através da publicação da Portaria Municipal nº 017/2022 – GAB/SMS, que instituiu o cuidado farmacêutico na rede e representou um avanço significativo para a área, consolidando as ações para a integralidade da assistência na APS.
Entendemos, então, que temos uma equipe muito qualificada e uma integração cada vez maior entre os farmacêuticos e demais profissionais da rede, de modo que seguiremos avançando. Neste momento, estamos revisando o Protocolo de Cuidado aos usuários que convivem com diabetes, que atualmente já permite aos farmacêuticos com especialização prevista na resolução do Conselho Federal de Farmácia realizarem otimização da farmacoterapia, como ajustes de dose de insulina, dentre outros. Também está em construção o Protocolo de Cuidado em Hipertensão Arterial, que seguirá nessa mesma linha. Enfim, acreditamos que nos próximos anos teremos uma rede ainda mais forte, integrada e resolutiva, com participação estratégica do farmacêutico nesse processo.
CRF-BA: Como a colaboração entre farmacêuticos e outros profissionais de saúde pode fortalecer a atenção às doenças crônicas no SUS?
PM: A parceria entre farmacêuticos e outros profissionais da APS é um dos pilares da atenção às condições crônicas no SUS. Essa sinergia permite um cuidado mais integral e personalizado ao usuário, otimizando os resultados terapêuticos e, principalmente, promovendo a adesão ao tratamento. O compartilhamento do cuidado entre os profissionais, a construção de protocolos clínicos e a utilização de ferramentas tecnológicas facilitam a gestão dos casos e garantem a continuidade do cuidado.
O cuidado compartilhado entre a equipe multiprofissional, centrado na pessoa, família e comunidade, é a chave para os melhores resultados em saúde e a efetividade da rede, reduzindo custos para o sistema e influenciando de forma direta o controle das condições crônicas e a qualidade de vida das pessoas.
CRF-BA: Quais são os principais desafios enfrentados pelos farmacêuticos na promoção da saúde e na gestão de doenças crônicas no SUS?
PM: Temos uma questão geral envolvendo remuneração, condições de trabalho e reconhecimento pelo trabalho exercido na APS, que ainda é um gargalo na maioria dos municípios brasileiros. Mas, com muito empenho, comprometimento, qualificação técnica e perseverança, acredito que temos vencido aos poucos esses desafios. Hoje, é possível visualizar diversas experiências exitosas; aqui na Bahia, por exemplo, muitas ações não são mais exceções. O Cuidado Farmacêutico, por exemplo, já é uma realidade e tem contribuído muito com a saúde das pessoas.
Enquanto farmacêutico, tenho tentado dar minha contribuição, seja no dia a dia de trabalho com nossa equipe de excelência ou nos espaços de debates e decisões das políticas de saúde. Temos conquistado espaço no COSEMS, sendo possível levar nossa voz e contribuição; temos um Grupo de Trabalho lá, junto com o Estado, que tem fortalecido as pactuações. Temos também o apoio do Conselho Regional de Farmácia do Estado da Bahia, através de sua Diretoria e do Grupo de Trabalho em Assistência Farmacêutica, que tem desenvolvido muitas ações e está com um excelente planejamento para seguir apoiando os farmacêuticos dos municípios em 2025, sobretudo as gestões que estarão iniciando.
Então, eu gosto de ver o lado bom da vida, o copo meio cheio. O sentimento é que, apesar dos muitos desafios, estamos avançando e assim seguiremos, por uma assistência farmacêutica que atenda às demandas dos nossos munícipes, em Vitória da Conquista, nos demais municípios baianos e brasileiros!