ATUAÇÃO FARMACÊUTICA NA RECUPERAÇÃO DE PACIENTES COM QUEIMADURAS: UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR
Joana preparava o almoço quando seu celular tocou em outro cômodo. Pedro, de 4 anos, aproveitou o afastamento temporário da mãe para se aproximar do fogão. A fatalidade aconteceu quando ele, curioso, puxou a panela com molho quente que estava ao seu alcance, derrubando o conteúdo sobre o próprio corpo.
Ao ouvir o grito agudo do filho, Joana correu de volta à cozinha e, ao ver a cena, seu coração parou. Pedro chorava, com a pele vermelha e ardendo. Joana rapidamente o pegou no colo e, com a ajuda de um vizinho, levou-o ao hospital.
Infelizmente, as queimaduras podem ocorrer de diversas maneiras e em diferentes situações. O caso de Pedro, um personagem fictício, ilustra apenas uma delas. A queimadura é toda lesão provocada pelo contato direto com alguma fonte de calor ou frio, produtos químicos, corrente elétrica, radiação ou mesmo por alguns animais e plantas (como larvas, água-viva e urtiga). De acordo com a Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde, se a queimadura atingir 10% do corpo de uma criança, ela corre sério risco. Em adultos, o risco é significativo se a área atingida for superior a 15%.
Diante dos riscos que as queimaduras trazem à saúde e de suas possíveis consequências, é fundamental que recebam uma abordagem atenta e multidisciplinar, incluindo o apoio dos farmacêuticos.
O Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Geral do Estado da Bahia (HGE) é referência no estado da Bahia em cuidados especializados para pacientes queimados. A Dra. Fabrizia Silva Morais Alves, farmacêutica clínica com ênfase em prescrição, atua no HGE, onde seu setor desempenha um papel crucial no acompanhamento da terapia medicamentosa. Ela orienta a equipe sobre a importância do manejo de opioides em pacientes queimados, garantindo a prescrição adequada, monitorando possíveis interações medicamentosas e educando a equipe de saúde e os pacientes sobre o uso seguro e eficaz.
Nos dias 26 e 27 de setembro de 2024, a Dra. Fabrizia esteve presente como palestrante no Congresso Brasileiro de Queimaduras, realizado em Belo Horizonte (MG). Na ocasião, abordou as possíveis interações medicamentosas, seus riscos e os fatores que contribuem para que ocorram, além dos cuidados necessários. Ela também é integrante do Comitê de Farmácia da Sociedade Brasileira de Queimados, onde os farmacêuticos contribuem ativamente para a melhoria diária do manejo da dor dos pacientes.
Compartilhando sua experiência na área com o CRF-BA, Dra. Fabrizia afirma que trabalhar com pacientes queimados sempre a fascinou pela complexidade do tratamento e pela necessidade de um cuidado multidisciplinar.
Sobre o papel do farmacêutico no tratamento de pacientes queimados, a profissional afirma que é “extremamente crucial por várias razões: gestão farmacológica; manejo da dor; o farmacêutico desempenha um papel importante na seleção e monitoramento de antimicrobianos, ajudando a evitar a resistência e garantindo que as infecções sejam tratadas de maneira eficaz; revisões regulares das terapias medicamentosas. A atuação do farmacêutico é crucial porque garante que o tratamento seja seguro, eficaz e personalizado. Com um papel ativo na equipe de cuidados, os farmacêuticos ajudam a melhorar a qualidade de vida dos pacientes queimados e a otimizar os resultados clínicos, tornando sua presença indispensável no manejo dessa condição complexa.”
O manejo de opioides em pacientes com queimaduras é um aspecto crítico do tratamento, dado o potencial para dor intensa e a necessidade de um controle eficaz da dor. O farmacêutico acompanha a escolha do opioide, a dosagem e realiza o monitoramento dos efeitos adversos.
Dra. Fabrizia destaca a importância da educação contínua da equipe de saúde e dos pacientes: “é fundamental para garantir o uso seguro e eficaz dos medicamentos no tratamento de queimaduras. Para isso, realizamos discussão em grupo e material de apoio para orientação de todos.”
Compreender o perfil típico de um paciente queimado é essencial para desenvolver um plano de tratamento eficaz e humanizado. Essa abordagem centrada no paciente, que considera suas necessidades físicas, emocionais e sociais, é fundamental para melhorar os resultados e a qualidade de vida durante a recuperação. Os principais aspectos desse perfil incluem idade e condições de saúde, tipo e extensão da queimadura, causas da queimadura e aspectos psicológicos.
A colaboração entre farmacêuticos e outros profissionais da saúde beneficia o manejo e a recuperação de pacientes queimados, promovendo um tratamento eficaz. “Essa abordagem multidisciplinar não apenas melhora a eficácia do tratamento, mas também promove uma recuperação mais rápida e abrangente, levando em conta as necessidades físicas, emocionais e sociais dos pacientes. Essa integração resulta em um cuidado mais seguro, eficaz e centrado no paciente.”
Dra. Fabrizia deixa uma mensagem final sobre sua área de atuação:
“A atuação na área de queimaduras é desafiadora, mas extremamente gratificante. A contribuição é vital para o sucesso do tratamento e para a recuperação dos pacientes. Sinta-se inspirado a expandir seu papel, aprimorar suas habilidades e fazer a diferença na vida daqueles que estão passando por momentos difíceis. Juntos, podemos promover uma assistência mais eficaz e humana.”