20 de setembro de 2024

ATUAÇÃO FARMACÊUTICA SE DESTACA NOS CUIDADOS PALIATIVOS

Em maio deste ano, o Ministério da Saúde lançou uma política inédita no SUS para os cuidados paliativos. Esses cuidados permitem a melhora da qualidade de vida das pessoas que enfrentam doenças graves, crônicas ou em fase terminal, e focam no alívio da dor, no controle de sintomas e no apoio emocional.

Essa política permitirá uma assistência mais humanizada. Entre as medidas, estão a criação de equipes multiprofissionais para disseminar práticas às demais equipes da rede e garantir o acesso a medicamentos e insumos necessários para quem está em cuidados paliativos. No dia 04 de setembro, ocorreu o I Simpósio Estadual de Cuidados Paliativos da Bahia, no auditório da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), demonstrando a importância crescente deste assunto.

Neste cenário, o farmacêutico é um dos profissionais fundamentais no cuidado paliativo, pois sua atuação vai além da dispensação de medicamentos. O farmacêutico contribui diretamente para a gestão da farmacoterapia, garantindo a eficácia e a segurança dos tratamentos. Sua participação é essencial para assegurar uma abordagem integral e centrada na pessoa, respeitando suas necessidades e garantindo uma melhor qualidade de vida nesta fase tão delicada.

A Dra. Luciana da Hora é um exemplo de profissional que decidiu abraçar essa área. Formada pela Universidade Federal da Bahia, ela é farmacêutica clínica paliativista e membro da Comissão de Cuidados Paliativos do Hospital Geral Ernesto Simões Filho. Seu interesse em trabalhar com cuidados paliativos surgiu após desenvolver um olhar mais humanizado e de compaixão pelos pacientes ao trabalhar no hospital. “Isso me fez entender que o cuidado vai além do diagnóstico e, independentemente da sua condição, o paciente merece ter dignidade e qualidade de vida até o final de seus dias. Precisamos olhar para o indivíduo e não para a doença. Isso me fez conhecer e me apaixonar pelos cuidados paliativos”, declarou.

Sobre os desafios que enfrenta ao lidar com cuidados paliativos, Dra. Luciana destacou a falta de compreensão sobre o assunto por parte do próprio paciente e familiares: “Isso acaba dificultando o manejo adequado e apropriado para cada indivíduo, e demonstra que ainda se trata de um assunto tabu e evitado por muitos”.

“Como farmacêutica, é um grande desafio entender o momento do paciente, como manejar os seus sintomas, qual o medicamento mais adequado para o alívio da sua dor naquele momento, e alinhar todo o seu processo de cuidado em acordo com a sua própria vontade, de sua família e equipe de saúde. É preciso estar próximo do paciente para ofertar o melhor. É um aprendizado e crescimento constante.”

Dra. Luciana afirma que o trabalho de uma equipe multidisciplinar é extremamente importante, pois o paciente precisa ser visto como um todo e agregar os conhecimentos de todas as áreas é o que faz a diferença nesse processo. No Hospital Geral Ernesto Simões Filho, a equipe multidisciplinar conta com duas farmacêuticas, psicóloga, nutricionista, enfermeira, médico e fisioterapeuta. “Somos bastante unidos e preocupados com o bem-estar dos nossos pacientes e da nossa própria equipe. Nossos resultados são incríveis, temos muito a crescer, mas já somos destaque na oferta de cuidados paliativos na Bahia.”

Dra. Luciana compartilha um caso que demonstra a importância do farmacêutico na vida de um paciente em cuidados paliativos:

“Recentemente, acompanhei um paciente com neoplasia avançada de pulmão e queixa de dor intensa. O quadro de dor não diminuía mesmo com o uso do analgésico já prescrito. Foi através do acompanhamento farmacoterapêutico e de uma maior proximidade com o paciente que pude compreender melhor o seu nível de dor. Identifiquei que um outro medicamento presente na prescrição estava antagonizando o efeito desejado pelo analgésico, o que explicava a persistência da dor. Alinhei com o prescritor a substituição desse medicamento e sugeri mudanças e ajustes nos analgésicos. No dia seguinte, já foi possível observar uma melhora significativa na queixa do paciente. Além disso, o paciente apresentava constipação devido ao uso desses analgésicos opioides. Sugeri, então, o manejo com laxantes para proporcionar maior conforto. No dia seguinte, o paciente também já apresentava dejeções.

O farmacêutico precisa ter consciência da importância e dos benefícios do seu trabalho para o bem-estar do paciente, além de promover o uso racional dos medicamentos. Aliviar o sofrimento é o nosso objetivo, especialmente em uma população que, muitas vezes, já sofre tanto, como os pacientes em cuidados paliativos.”

Sobre o futuro da área e o papel do farmacêutico, Dra. Luciana pontua que o crescimento é esperado: “É preciso desmistificar os cuidados paliativos como abordagem adotada quando ‘não se tem mais nada a fazer’. Há muito o que se fazer nos cuidados paliativos! E quanto mais cedo os pacientes se beneficiarem dessa prática, maior será a sua qualidade de vida e menor o seu sofrimento. Cuidados paliativos não são somente para pacientes que já estão morrendo, mas para qualquer indivíduo que tenha uma doença incurável e/ou ameaçadora da vida. O farmacêutico precisa se mostrar e fazer parte do cuidado desses pacientes, auxiliando no tratamento de sintomas, manejando interações medicamentosas, avaliando doses e indicações, promovendo uso racional de medicamentos e educação continuada para a equipe de saúde acerca da segurança envolvendo os medicamentos, seja no preparo ou na administração, além de promover o tão desejado conforto e menor sofrimento para o paciente e sua família.”

Vale destacar que a Sesab inaugurará o primeiro hospital de cuidados paliativos do Brasil, uma obra de restauração e revitalização do antigo Hospital Couto Maia.

Fontes:
www.saude.ba.gov.br
www.gov.br

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