27 de agosto de 2024

VAMOS CONHECER A TRAJETÓRIA DO DR. LEONARDO MACIEL, COORDENADOR DO CHOCOLAB DA UFBA

Toda mudança deve ser encarada como um processo natural e, podemos também dizer, de evolução. Seja na vida pessoal ou profissional, é importante que estejamos atentos à necessidade de alterar nossos planos, objetivos, opiniões e reposicionar nossa rota, quando julgarmos necessário. 

Foi exatamente isso que o Dr. Leonardo Fonseca Maciel, coordenador do Laboratório de Tecnologia de Cacau e Chocolate da Universidade Federal da Bahia (Ufba), precisou fazer em um certo momento da sua carreira. 

Graduado em Farmácia pela Ufba, ele optou por fazer a habilitação em análises clínicas, mas no meio do caminho, percebeu que não se identificava com aquela área, pois passou a considerar que não tinha o perfil necessário para atuar na saúde. 

Foi quando uma amiga o levou para conhecer o laboratório de análises de alimentos e uma mudança começou a ocorrer. “Enxerguei ali uma possibilidade de atuação. Comecei a cursar as disciplinas e surgiu a oportunidade de fazer uma especialização em ‘Segurança e Inspeção de Alimentos’, na própria Ufba. Para melhorar ainda mais, consegui uma bolsa de estudos”, relembra. 

O farmacêutico relata que, logo depois ingressou no mestrado em “Ciência de Alimentos”. Ainda naquele período, o Dr. Leonardo prestou concurso para farmacêutico de alimentos, também na Ufba. 

“Percebi que as coisas iam se encaixando e acontecendo em uma sequência. Passei no concurso e segui para o doutorado em ‘Ciência de Alimentos’. Na área que atuo, manter-se atualizado é uma condição fundamental, porque existe um dinamismo muito grande”. 

O Dr. Leonardo também trabalha no laboratório multiuso da Ufba, que recebe os alunos da graduação e da pós-graduação, que estão desenvolvendo pesquisas. “Eu fico como guardião dos equipamentos e zelo pela manutenção dos mesmos. Aqui podemos atender a qualquer área, como a de cosmética, por exemplo, mas a maioria dos equipamentos são voltados para a ciência de alimentos”. 

O trabalho com cacau e chocolate entrou na vida profissional do Dr. Leonardo, em 2005, quando ele participou de um congresso na cidade de Campinas, no estado de São Paulo, onde conheceu a professora Dra. Eliete Bispo, referência nas pesquisas da área.

“Senti uma curiosidade instantânea e passei a pesquisar o que poderia ser feito com cacau e chocolate na área de alimentos e que tivesse um valor para as ciências farmacêuticas”.

Nas suas pesquisas, o Dr. Leonardo relata que encontrou diversos estudos sobre, por exemplo, a adição de princípios ativos do chocolate em medicamentos para crianças como forma de facilitar a aceitação e a ingestão dos mesmos. 

“A Dra. Eliete, hoje aposentada, foi minha grande referência e me incentivou a desenvolver minhas próprias pesquisas sobre o assunto. Logo após eu concluir o doutorado, ela conseguiu um espaço para montarmos o Laboratório de Tecnologia de Cacau e Chocolate da Ufba, também conhecido como ChocoLab. De lá para cá, já trabalhei com 13 variedades de cacau”.

Atualmente, o ChocoLab atua com foco em pesquisas acadêmicas, mas está aberto para atuar em parceria com empresas privadas e produtores do setor. 

“Chegamos a desenvolver, por exemplo, um trabalho com uma fazenda que queria saber as diferenças de aromas a depender da variedade da espécie de cacau”.

O coordenador do Chocolab destaca que se surpreende cada vez mais conforme vai se aprofundando nas pesquisas. “Foi constatado que os compostos são diferentes entre uma variedade de cacau e outra. Com a mistura dessas variedades, nós conseguimos produzir chocolates com até quatro vezes mais compostos bioativos, com aromas e sabores diferentes. É um mundo de possibilidades”.

O Dr. Leonardo fez pós-doutorado na Espanha e, por isso, recebeu um convite para a realizar um ciclo de palestras na Colômbia, na Universidade Nacional de Bogotá, Universidade Nacional de Medélin e Universidade Nacional de Cartagena, no mês de agosto.

“As palestras são sobre cacau e chocolate e os processos de internacionalização. Quando falo a respeito sempre aproveito para incluir o que é referente à Farmácia e relatar a nossa expertise nesse segmento”. 

Na Espanha, o farmacêutico aprendeu a técnica chamada de bioacessibilidade, que estuda o que acontece com um composto desde que toca a língua até ser absorvido completamente pelo organismo e cair na correte sanguínea.

“A partir de então passei a focar em implementar esse método no laboratório onde trabalho. Foi uma experiência incrível que me ajudou a reforçar a certeza sobre a importância do farmacêutico na área de alimentos”. 

Segundo o Dr. Leonardo, embora ainda pequeno, existe um mercado para os farmacêuticos atuarem com chocolate e outros alimentos, na Bahia.  “Falta visão do empresariado para investir no aprimoramento da qualidade e apostar na capacidade dos farmacêuticos nesse sentido. Em outros estados das Regiões Sul e Sudeste, isso já é uma realidade”.

Para concluir, o Dr. Leonardo recomenda a estudante da graduação e aos recém-formados em Farmácia que estejam em dúvida sobre qual caminho seguir, que olhem para a área de alimentos. 

“Eu sou testemunha do interesse dos estudantes da graduação que chegam até o laboratório para conhecer e acabam pedindo um estágio. Muitos que passaram por aqui seguem adiante e já estão atuando na área, espalhados pelo Brasil. É desafiador e complexo trabalhar com alimentos, mas é extremamente gratificante”. 

Esperamos que a jornada profissional do Dr. Leonardo possa servir de inspiração e direcionamento para os estudantes de Farmácia e jovens farmacêuticos que têm dúvidas sobre como se posicionar no mercado de trabalho. 

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