ESTUDANTES BAIANOS PESQUISAM SOBRE IRRITAÇÕES CAUSADAS POR POMADAS MODELADORAS E SÃO PREMIADOS
Recentemente, o uso de algumas pomadas modeladoras para cabelos chamou a atenção por causar efeitos indesejáveis, como coceira, lacrimejamento intenso e até mesmo perda temporária de visão. Por conta disso, a Anvisa realizou um alerta e até cancelou a regularização de oito pomadas modelodoras.
Aproveitando o momento, o estudante de Farmácia, Rafael Andrade Inário Silva, realizou, em 2022, um estudo que utiliza membrana vascularizada de embrião de galinha para avaliar o potencial de irritação ocular de pomadas modeladoras. A pesquisa foi premiada com o 2º lugar no Simpósio Brasileiro de Inovação (Bio)Farmacêutica/IV Simpósio Baiano de Inovação (Bio)Farmacêutica (SIMBIFAR 2022).
No início do ano passado saiu a nota da Anvisa sobre a pomada modeladora que estava causando irritação e havia tido sua comercialização proibida. Foi algo que não estávamos esperando e que era perfeito pra o teste! Na hora relacionei logo com a grande influência da cultura afro na cidade de Salvador, e as tranças estão aí para todos os lados. Aproveitamos isso também para pedirmos amostras que eram inclusive utilizadas pelos próprios alunos da FacFar. Das 6 marcas testadas, 3 foram doadas pelos próprios alunos, que eles utilizavam.
Rafael Silva.
A técnica da pesquisa consiste em aplicar o produto sob teste na membrana do embrião e observar possíveis efeitos de hiperemia, hemorragia e coagulação.
Este estudo foi tema de trabalho de conclusão de curso de Rafael Silva, e a ideia da pesquisa surgiu depois de ouvir relatos de casos de cegueira temporária de pessoas que utilizaram algumas pomadas modeladoras.
Embora a pomada seja utilizada na região capilar, pela proximidade com os olhos, o produto pode entrar em contato de forma acidental ou não intencional, como quando se lava o cabelo ou em um banho de piscina ou de mar, por exemplo
Rafael Silva.
Rafael destaca que o uso de pomadas modeladoras na cultura afro é muito comum e isto foi um dos motivos de sua intenção em realizar o trabalho, considerando a grande quantidade de alunos e pessoas da região de Salvador que utilizam esse tipo de produto.
O seu orientador, Professor Dr. Ricardo Bizogne Souto, professor da Faculdade de Farmácia da UFBA e coordenador do Laboratório de Ensaios Biológicos Farmacêuticos (LEBIFAR), comenta que a pesquisa trouxe resultados alarmantes relacionados ao grau de irritação de algumas das pomadas modeladoras analisadas.
O controle de qualidade desses produtos é fundamental de forma a garantir a segurança da população quando da utilização dessas pomadas.
Dr. Ricardo Bizogne Souto
O trabalho, que também tem autoria do mestre em Ciências Farmacêuticas pela UNEB, Daniel Batista, e da aluna de graduação em Farmácia da UFBA, Vanessa Alves Pacheco, foi apresentado e premiado em 2º lugar no Simpósio Brasileiro de Inovação (Bio)Farmacêutica/IV Simpósio Baiano de Inovação (Bio)Farmacêutica (SIMBIFAR 2022), que aconteceu em outubro de 2022. A pesquisa está em fase de finalização da escrita e os autores pretendem em breve divulgar os resultados obtidos no meio científico.
Confira abaixo uma breve entrevista com o estudante Rafael Silva:
CRF-BA: Por que utilizar a membrana vascularizada de embrião de galinha para avaliar o potencial de irritação ocular das pomadas modeladoras?
Rafael: Bom, o teste da membrana vascularizada do embrião de galinha, ou HET-CAM em inglês, já vem sendo estudado há algum tempo agora. Na busca por métodos alternativos ao teste nos olhos de coelhos no final da década de 80, começou a se utilizar do potencial de irritabilidade que essa camada dos embriões apresentava. Essa membrana tem características semelhantes ao olho humano, é bem vascularizada e apresenta reações de forma bem rápida. Um dos principais motivos pra se utilizar esse método seria o fato de ser um alternativa simples, barata, de fácil aplicação. Não adianta existir métodos de cultura de células de linhagens específicas e coisas muito sofisticadas se a aplicabilidade na realidade seja impossível, seja por questões financeiras ou mesmo por depender de equipamentos. Apesar de não substituir inteiramente o teste do olho do coelho, a alta sensibilidade do HET-CAM permite uma primeira triagem de produtos irritantes e não irritantes. Dificilmente uma substância que não provoque irritação na membrana do ovo causará irritação no olho humano.
CRF-BA: O seu trabalho ganhou o 2º lugar no Simpósio Brasileiro de Inovação (Bio)Farmacêutica/IV Simpósio Baiano de Inovação (Bio)Farmacêutica (SIMBIFAR 2022), (meus parabéns), você e sua colega esperavam essa conquista?
Rafael: Obrigado novamente! E na realidade não esperávamos. A inscrição no Simpósio foi feita mais por já termos o trabalho pronto. O professor comentou e perguntou se não gostaríamos de inscrever, e então o pôster foi feito. Fiquei muito feliz com a colocação porque todos os trabalhos que vi ali foram incríveis, inclusive o de minha colega de laboratório, Juliana. Foi uma surpresa muito boa e um combustível para o término da pesquisa e a ideia de publicação, já que claramente é um tema que tem interessado.
CRF-BA: Pretende seguir na área de cosmetologia ou na área de pesquisa?
Rafael: Bom, eu sempre me interessei bastante pela área de pesquisa, e a área de cosméticos é também uma área de grande interesse meu. No momento estou me matriculando no mestrado de Microbiologia da UFBA, com esperanças de talvez continuar com o professor Ricardo como orientador. Provavelmente não será na área de cosmetologia a nova pesquisa, mas não pretendo me afastar completamente da área.
O CRF-BA parabeniza estudantes e farmacêuticos envolvidos na pesquisa e faz votos para que o sucesso continue!